quarta-feira, 20 de junho de 2012

O castelo dos nossos medos




No bosque dos sonhos existe um castelo que guarda os nossos medos. Ninguém sabe exatamente onde se encontra, pois o desafio é achar o caminho de volta. Sabe-se que fica entre a esquina da rua do Silêncio com a da Atitude. Às vezes a vida nos transporta para lá. Pode ser fascinante, mas também assustador. Possui um colorido sombrio, como aquele que vemos quando sonhamos e não sabemos ao certo as cores, mas temos a certeza de que existiam e pareciam até reais. As paredes de concreto abrigam o abstrato da fantasia. Todos os muros e colunas têm aquarelas musicadas soando ecos de exclamações. Pois lá é o lugar onde são enterrados em pintura aqueles impulsos mortos do que se pensou em fazer e por medo desistimos.

Quando nascemos, nós fomos apresentados a aquele lugar estranho ainda com os olhos muito fechados, por muitas vezes achávamos aterrorizante e começávamos a chorar. Era quando apareciam os fantasmas, os bichos-papões... E logo o nosso alarme berrante fazia com que nossos pais nos salvassem. Mas outras vezes nossos olhos deixavam ocultas imagens necessárias para que conseguíssemos enxergar as cenas mais belas que nenhum adulto sequer conseguiria atingir. Nesses momentos, nossos desenhos foram motivos de risos.

Com o tempo fomos crescendo, vencendo os medos e amadurecendo nossa presença neste lugar. As nossas responsabilidades aumentando, decepções crescentes, faz-se necessária nossa ida, onde lá a paz é constante. Já não berramos como antigamente, não temos heróis e por isso a dor parece ser maior. O mundo é monstruoso, maior do que o antigo "monstro do armário"... Com quem podemos contar? Estamos sozinhos, e nos damos conta de que somos todos sozinhos...

É por isso que no castelo dos medos existem anjos. Geralmente somos abordados por eles, que tomam conta de nós . Suas pranchetas sussurram nos nossos ouvidos perguntas como: " Por que aquela pessoa que eu tanto amava se foi?", "Por que eu tive que passar por este momento tão difícil na minha vida?", "Por que meu casamento está em crise, ou não deu certo?" entre tantas outras perguntas curiosas.

Os anjos cuidam de nós e faz, não com que enxerguemos o "porque" , mas com que através da reflexão nossas forças sejam renovadas para acharmos uma saída. Afinal, no momento em que a vida nos leva ao castelo, voltamos a reviver aquela criança frágil e precisamos de alguém que nos salve, que escute nosso berro engolido. Porque fomos educados para não chorar, para sermos adultos silenciosos. E ficamos na amargura, encolhidos no nosso medo, olhando as pinturas na parede que mostram as atitudes não realizadas. As oportunidades que perdemos e poderiam ter mudado nossa direção... Aquele beijo que não demos antes do adeus... O perdão em que o orgulho ferido não concedeu.... As palavras carinhosas que muitas vezes queríamos ter dito e não dissemos... Aquele trocado que não dei ao menino que passava fome na rua... Aquele amigo que pediu ajuda e não tivemos tempo... Aquela pessoa que não tivemos coragem de nos envolver...

Os olhos voltam a ser aqueles pueris, e se fecham em lágrimas e imagens estreitas, como aquelas dos nossos desenhos. E quando vemos, revivemos a arte da nossa infância, temos olhos nos escuros e passamos a enxergar o que não atingíamos . Enxergamos que é necessário tristezas para que encontremos a felicidade, que é preciso perder para ganharmos. Existem pessoas que passam a vida toda trancadas no castelo, mas bem no fundo sabem que é por própria opção dela, que é possível achar a saída. Assim passamos toda a nossa vida saindo e entrando sempre no bosque dos sonhos... Porque lá existe o castelo dos medos que nos renova a coragem de prosseguir e faz com que avistemos do alto os melhores caminhos. Aliás, foi do alto da janela deste castelo que escrevi este conto... Foi através deste conto que encontrei a minha saída.

Thaís Copetti


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